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17/04/2015
Como a Costa Rica conseguiu produzir toda sua eletricidade de forma limpa
Durante os primeiros 75 dias deste ano, a Costa Rica conseguiu uma marca
inédita: usou apenas energia renovável para abastecer sua rede elétrica, em
meio a esforços para "limpar" sua matriz energética até 2021.
O país se beneficiou de três represas cheias graças a um período
excepcional de fortes chuvas, além da energia de fontes geotérmica - que usa o
calor vindo do interior da Terra - , eólica, solar e biomassa, segundo o
Instituto Costa-riquenho de Eletricidade.
Com isso, as usinas térmicas do país não precisaram ser usadas no
período, "com consequente benefício ambiental e econômico, porque não
houve necessidade de usar combustíveis (fósseis)", disse o instituto.
Por enquanto, só metade das fontes de energia primária da Costa Rica são
renováveis. Neste ano, o país conseguiu avançar "limpando" a energia
elétrica.
Especialistas consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC,
apontam que o país tem tentado obter rendimento máximo de seus recursos
naturais para evitar ter de importar hidrocarbonetos.
Um dos elementos-chave foi a integração ao Programa de Energias
Renováveis e Eficiência Energética Centro-americana (4E), implementado pelo
escritório de cooperação internacional do governo alemão junto à
Secretaria-Geral do Sistema de Integração da América Central (SG-SICA), que
trabalha para fomentar uma matriz mais limpa na região.
O diretor regional do programa 4E, Manfred Haebig, explica à BBC Mundo
que o país "sempre teve a matriz energética mais 'verde' da América
Central".
A matriz é composta em 80% por hidrelétricas e só 20% das energias
renováveis é eólica e geotérmica (uma usina no país é abastecida pelo vapor de
um vulcão dormente).
O problema disso - além do impacto da construção de hidrelétricas - é
que o modelo é bastante dependente do clima: se falta água, o fornecimento de
energia fica comprometido.
"Hoje as represas estão cheias e pode-se falar de 100% de energia
renovável. Mas isso é dinâmico e pode mudar ao longo do tempo", explica
Haebig.
A novidade, no caso costa-riquenho, é que o país tem levado em consideração as mudanças climáticas, que alteram, por exemplo, a constância das chuvas, explica Tabaré Arroyo, autor do estudo "Líderes em Energia Limpa", produzido para a organização ambiental WWF.
Arroyo explica que a Costa Rica tem investido não apenas em energia
hidrelétrica, mas também eólica e geotérmica, para o caso de caírem os níveis
de água acumulada nas represas.
"Obter 100% de eletricidade renovável é algo novo na América
Latina", afirma.
Em seu relatório para a WWF, Arroyo explica que dois mecanismos ajudaram
o país centro-americano a avançar nas energias renováveis.
O primeiro é um sistema de leilão para a compra adicional de energia limpa.
O segundo é um programa para promover a geração de energia pelos
próprios consumidores - "que conectam seus sistemas solares, eólico, de
biomassa e cogeração à rede", explica o especialista. Esses pequenos
produtores podem vender os excedentes, o que vem ajudando a abastecer a rede
energética.
"Graças a seu grande potencial e um marco jurídico favorável, a
Costa Rica criou um ambiente atrativo para investimentos em energia
renovável", diz o relatório.
Entre 2006 e 2013, o país atraiu mais de US$ 1,7 bilhão para financiar
projetos energéticos limpos.
Com isso, a Costa Rica virou o "país latino-americano mais bem
posicionado no Índice de Sustentabilidade Energética", diz a WWF.
Ao mesmo tempo, reportagem do jornal
britânico The Guardian ressalta que
a Costa Rica ainda enfrenta muitos obstáculos para cumprir suas metas
energéticas: além de ter um padrão instável de chuvas, o país ainda depende do
petróleo para o setor de transportes.
O combustível consumido por carros, ônibus e trens responde por quase
70% das emissões de carbono costa-riquenhas. E são poucos os carros híbridos
disponíveis, disse o jornal.
Ainda assim, em um país dependente do turismo ecológico, "faz
sentido buscar fontes de energia limpas e não contaminantes", diz Jake
Richardson, especialista em energia renovável do site Clean Technica.
O objetivo é também economizar na importação de combustíveis fósseis e
no próprio bolso: a Autoridade Reguladora de Serviços Públicos calcula que a
tarifa de eletricidade ficou até 15% mais barata graças às mudanças
energéticas.
Fonte: BBC